Senta-te.
Lê lentamente, para isto não há pressa.
Pensa na tua vida, no rumo que vai tomar. Tira a calculadora, afia o lápis e arranja uma borracha. Vai buscar uma folha de papel. Calcula quanto tempo demoras a concretizar os teus objectivos e como os vais cumprir. Tal como sempre te aconselharam a pensar. Quando vais casar, quantos filhos vais ter e quanto vais ganhar. Calcula a renda da casa, os empréstimos do banco e as despesas dos miúdos. Fico à espera, faz as contas.
Tens os números? Boa, manda-os fora. Só para o teres o prazer de os mandar fora. Rasga-os se quiseres, tem esse prazer. Que seja todo teu. Ouve-me: “Que o prazer seja todo teu.” E que seja. É infinitamente melhor que o desprazer de acordares para fazeres o que não gostas.
Por falar em números, ajusta contas. Aqueles 10€ que estás a dever há dois meses ao teu melhor amigo? Paga-os. Em copos. Convida-o hoje à noite para um bar porreiro e barato. Aparece com 10 cervejas e oferece. Diz que a tua dívida está paga com a maior lata do mundo. E pede mais 10 para ti. E fiquem os dois e percam-se no tempo. São que horas? Tarde. Mas chamem todos aqueles a quem devem dinheiro, e eles convidam os seus devedores e assim sucessivamente. De negócios tratamos hoje. Façam as transacções em cerveja. Vale mais assim, não só pelo dinheiro mas pelo gesto. Isto sim é uma mesa de trabalho. Mas faz-se tarde e é hora de ir para casa. Não pegues no carro, que estupidez. Dorme em casa da pessoa ao teu lado, vive a 5 minutos daqui. Ou se estiver cheia, num hostel perto. Não tens trocos? Pede para pagar depois, em copos.
Vá! Vá! Tem só vergonha de teres vergonha.
E diz-me. Quando é que foi que deixaste de sorrir antes de responderes ao que queres ser quando fores grande? Que atire a primeira pedra aquele que nunca sonhou. Mas estavas certo, sabias? Não. Não era na profissão. Ou era, se calhar. Podes ser jogador da bola ou bailarina profissional, se quiseres. Mas não era de pseudo-destinos que falava. Estavas era certo na ambição-desmedida de fazeres o que queres, que na altura tinhas. Ambição-desmedida. É uma palavra verdadeira, vem sempre junta. Vejam no dicionário. Quer dizer, não vejam. Fui eu que inventei. Mas deixem-me! Já que já nos aldrabam o português com (des)acordos ortográficos, façamos nós o mesmo.
Já viste o que é gostares de acordar e ir trabalhar? O que é chegar a casa e cumprimentares a tua família com um sorriso de um perfeito pateta que tanto se divertiu no primeiro dia de trabalho? E chegares mais tarde, muito mais tarde, 30 anos depois. Com o mesmo sorriso. Mas com a cara envelhecida, cheíssimo de pés de galinha e rugas. Mas daquelas bonitas. De sorrir. Porque sorriste hoje (outra vez) já que te divertiste no trabalho, como fazes desde há 30 anos, sempre que chegas.
Vá, mas agora chega de falar de coisas sérias e responde-me mas é às mensagens. Ou não. Odeio quando demoras mas adoro a antecipação. Os nervos que me dás e a vida que me dão (ou tiram)! Deixa mensagens por ler mas não deixes sonhos por viver. Vivamo-los todos. Juntos, se possível. Viajamos e perdemo-nos e encontramo-nos. E casemo-nos em segredo. É mais giro assim, às escondidas. Confia em mim, juro! Quer dizer, juro por mim. Não juro por nós porque me ensinaram a não jurar pelas coisas que acho mais importantes. Mas façamo-lo os dois. Somos poucos mas somos loucos. E não vivemos só ao fim de semana.
O que fazemos amanhã?