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Não morro na praia

Não morro na praia.

Não sou supersticioso mas hoje não arrisco. Não passo por debaixo de sinais nem olho para baixo, não vá encontrar espelhos partidos no chão. E os gatos pretos que não se atravessem à minha frente, que não respondo por mim. Caminho desajeitado, com passos pesados, e vou de alma cheia.

Mas falando de coisas sérias.

Portugal foi em 2013 o país da Europa que mais divórcios celebrou. Gostas de histórias de terror? Aqui vão os números. Mais de 70% dos “até que a morte nos separe” caiu no esquecimento. E nem foi o ano mais fatídico. Aliás, só digo 2013 porque foi o último ano do qual encontrei registos. É compreensível, também me despediria se o meu trabalho fosse analisar desamores. Antes desempregado que deprimido.

Vá, vá! Tem calma, não te preocupes. Estamos cá os dois para dar a volta às estatísticas. O que eu adoro no meu país é que posso ser eu a dar-lhe a volta. Anda meio em baixo, está cansado e tem passado por uns tempos difíceis. Portanto sejamos nós pioneiros, relembremos a coragem dos descobridores e cantemos a lenda de D. Pedro e D. Inês de Castro, reis efémeros mas amantes eternos. Aviso-te: não há de ser fácil. Todos gostam dos finais felizes mas nunca se lembram das guerras que os antecedem.

Queres saber uma coisa? O romance não está morto. Mas andam a matar os românticos. Andam a condenar quem leva flores mas não leva papas na língua. Quem se declara com toda a naturalidade do mundo, porque é natural estar apaixonado. Quem sabe que as histórias de amor às vezes precisam de um empurrão, e que ainda estão por ser escritas (a nossa vai ser um sucesso, hás de ver). Quem vai sem vergonha e sem coragem. Mas vai.

E vou, estou a caminho. Não saias de casa.

Tem-se pena dos românticos porque se alguma coisa corre mal hão-de ficar devastados. E a verdade é que ficamos. E continuamos. E apaixonamo-nos. Por coisas pequenas, por pormenores, por tiques, por passos desalinhados, por olhares, por gargalhadas, por momentos, por memórias, por pessoas e eu por ti.

Estou a chegar e não consigo ficar mais à espera. Antes morrer baleado que morrer na praia. Se não te mereço tenho a certeza que ao menos mereço um fim fatídico. Não vou levianamente. Ou vai ou racha. Tudo ou nada. Até já!

Acho que é por estarmos em crise que devemos pensar que temos que poupar em tudo. Já poupo em gasolina e em presentes e em roupa e em refeições fora. Não preciso de poupar em passeios ou cartas ou palavras ou declarações de amor. Nas declarações de amor não corto. Nem na tinta, que te escrevo sempre que me pedires. Queres que o escreva nas paredes de um prédio, num graffiti, ou numa folha de papel, a grafite?

Só tu é que não me poupas. Dás-me cabo dos nervos, hei de acabar num psicólogo. Vá, responde-me. Parece a gozar mas não me dá gozo nenhum. Soubesses a raiva que te tenho e já estás perdoada.

Cheguei.

Tremem-se-me os joelhos e suam-se-me as mãos. Agora não podia ser cão que me denunciava a cauda entre as pernas. Inspiro à procura de ar. Toco à campainha. (Se não se tocar à campainha, como se irão tocar os sinos?) Olho para o céu e estou entregue ao infinito. Esta coisa de saber que vais aparecer à varanda para ver quem é não me deixa não fazer a analogia com Romeu e Julieta. Por isso, não fujo. Não arredo pé apesar de na verdade mal me aguentar em pé. Hoje faz-se (a minha) história.

E nem sei se acaba bem. Aliás, o que queria mesmo era começar. Bem.

“O que é que estás aqui a fazer?”

“Desce.”

Na praia não morro.