Gosto que fale alto e que se ria de boca aberta.
Gosto que sussure e aproxime a cara, quando não fala alto. Que pare o mundo para falar a uma amiga. Que faça gestos extravagantes e que não passe despercebida.
Gosto que use as suas próprias expressões e que perceba as piadas tarde. Que não tenha papas na língua e que deixe as cerimónias para os outros. Que se revele quando na sua zona de conforto. Que não olhe a padrões de gargalhadas e que agradeça as coisas pequenas. Que odeie que lho chame, mas que seja uma princesa moderna e à sua maneira. E à minha. E minha.
Mas vá, sabe que não fazes tudo bem. Pára de me falar do rei na barriga e percebe que só o tenho de te ter. És tu quem mo dás. E que me tiras as barrigas de miséria, de vida. E se realmente for rei, permite que te nomeie rainha. Sei que parece um cliché dos desenhos animados de outras idades. Mas seja, sempre fui dado a ingenuidades.
E agora? Onde andas? O que tens feito? Como estás? Estou farto de perguntar aos outros por ti sem te mencionar. Farto de perguntar quem vai e abstrair-me de todas as respostas - ignorar o mundo inteiro, fale-se em Deus ou no diabo - só à espera de ouvir o teu nome.
Quero para ti o que quero para mim. Procura conteúdo. Procura aquilo que o tem e acima de tudo aqueles que o têm. E vive à base dele, vive arrepiada. Do conteúdo e das emoções fortes. É tão gratificante saltar de páraquedas de um avião como ter uma conversa que te abre os olhos. Tem tuas noites desligadas do mundo. De copos, de passos desalinhados, de gargalhadas sem sentido e de danças desenvergonhadas. Noites boémias e improváveis. E isto que te digo. Noites com momentos de sobriedade e de grandes conversas, de discussões acesas, de politiquices e filosofias de madrugada. Noites, porque me parece que estas coisas fazem mais sentido à noite, sem olhar a relógios e sem telemóveis.
Rodeia-te das pessoas que te deixam feliz. Das pessoas que te fazem rir. Das pessoas que te fazem pensar e das pessoas que te fazem chorar. Quero que rias, que penses e que chores. É feio de se dizer, mas quero que chores.
Que bom, quero isto tudo para ti e já começo a ficar com inveja só de te imaginar. Vais-te aperceber que no que hoje te escrevo assumo uma posição estupidamente egoísta. Quero que chores para viveres. Quero que vivas porque te quero bem. Quero-te bem porque me quero bem. Olhando para trás gostava de ter passado mais tempo contigo e de ter mais vida para te lembrar. Envaidece-me ter-te ao meu lado.
Lê imenso. Tem sede de aprender. Ambiciona sem medida. Faz o que gostas. Passa noites a sonhar acordada e dias acordada a sonhar. E dorme só quando quiseres, o que quiseres. Temos mil e uma oportunidades pela frente, não nos preocupemos para já com o que temos que fazer ou conseguir daqui a muitos anos. Já reparaste na palavra “preocupar”? É pré ocupar a mente. É pensares em coisas que vais ter que pensar mais tarde. Ocupar a cabeça com o que a vais ter que ocupar mais tarde. E até lá estás a perder tempo de sonho. E não quero que percas tempo de sonho.
Tem noção do teu valor. Para ti e para os outros. Tem noção que tu não és só tu, mas também a tua imagem para cada pessoa que te vê.
(…)
Obrigado pelas oportunidades que me dás. E pela vida que me trazes. Obrigado pelo que vejo de ti e pelas pequenas coisas que fazes sem querer, de que me lembro e não me esqueço.
Obrigado.
E parabéns.